terça-feira, 31 de outubro de 2017

Beijo Eterno - Castro Alves

Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira 
e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue. 
Acalma-o com teu beijo,
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!
Fora, repouse em paz
Dormida em calmo sono a calma natureza,
Ou se debata, das tormentas presa, 
-Beija inda mais!
E, enquanto o brando calor
Sinto em meu peito de teu seio,
Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio,
Com o mesmo ardente amor!
De arrebol a arrebol,
Vão-se os dias sem conto! 
E as noites, como os dias,
Sem conto vão-se, cálidas ou frias!
Rutile o sol
Esplêndido e abrasador!
No alto as estrelas coruscantes,
Tauxiando os largos céus, 
brilhem como diamantes!
Brilhe aqui dentro o amor!
Suceda a treva à luz!
Vele a noite de crepe a curva do horizonte;
Em véus de opala a madrugada aponte
Nos céus azuis,
E Vênus, como uma flor,
Brilhe, a sorrir, do ocaso à porta,
Brilhe à porta do Oriente! 
A treva e a luz – que importa?
Só nos importa o amor!
Raive o sol no Verão!
Venha o Outono! 
do Inverno os frígidos vapores
Toldem o céu! das aves e das flores
Venha a estação!
Que nos importa o esplendor
Da primavera, e o firmamento
Limpo, e o sol cintilante, e a neve, 
e a chuva, e o vento?
Beijemo-nos, amor!
Beijemo-nos! que o mar
Nossos beijos ouvindo, em pasmo a voz levante!
E cante o sol! a ave desperte e cante!
Cante o luar,
Cheio de um novo fulgor!
Cante a amplidão! cante a floresta!
E a natureza toda, em delirante festa,
Cante, cante este amor!
Rasgue-se, à noite, o véu
Das neblinas, 
e o vento inquira o monte e o vale:
“Quem canta assim?” 
E uma áurea estrela fale
Do alto do céu
Ao mar, presa de pavor:
“Que agitação estranha é aquela?”
E o mar adoce a voz, e à curiosa estrela
Responda que é o amor!
E a ave, ao sol da manhã,
Também,. a asa vibrando, 
à estrela que palpita
Responda, ao vê-la desmaiada e aflita:
“Que beijo, irmã!
Pudesses ver com que ardor
Eles se beijam loucamente!”
E inveje-nos a estrela... 
e apague o olhar dormente,
Morta, morta de amor!...
Diz tua boca: “Vem!”
“Inda mais!”, diz a minha, a soluçar... 
Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
“Morde também!”
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! Morde mais! 
Que eu morra de ventura,
Morto por teu amor!
Quero um beijo sem fim,
Qu dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para minha vida,
Só para o meu amor!

8 comentários:

  1. Trata-se da tal colonização de Beijos que marca...

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    1. Uns marcam mais, uns menos...
      mas beijo é muito bom sempre rsrs
      Beijos

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  2. Poema estupidamente lindo... conheci-o no ginásio através de uma amiga!!!
    Beija-me sem fim...... fiz uma vez um poema nesse tema....
    Agora, a bucetinha na imagem é qualquer coisa para se beijar e chupar e lamber até morrer!!!

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    1. O texto é maravilhoso mesmo.
      Obrigada pelo carinho sempre.
      Beijos

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  3. lindo texto.
    beijos em ti ...aqueles de matar a saudade,

    L.P.V

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    1. O melhor deles, beijo de saudades!
      Beijo, beijo.

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  4. Esse aí sabia de beijos...

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