Tenho tanto sentimento Que é freqüente persuadir-me De que sou sentimental, Mas reconheço, ao medir-me, Que tudo isso é pensamento, Que não senti afinal. Temos, todos que vivemos, Uma vida que é vivida E outra vida que é pensada, E a única vida que temos É essa que é dividida Entre a verdadeira e a errada. Qual porém é a verdadeira E qual errada, ninguém Nos saberá explicar; E vivemos de maneira Que a vida que a gente tem É a que tem que pensar.
Como conter este fogo que em mim crepita Como calar a mulher que, abafada, grita Como vazar esta energia, há tanto armazenada Como estancar meu êxtase e reduzi-lo a nada?! Como segurar meus quadris quando me chega o ritmo Como calar minha voz que nasceu pra cantar Como aquietar este corpo remoçado e quente Se este corpo nasceu vocacionado para amar?! Não... decididamente não sou deprimida Muito pelo contrário... isto é uma ideia torta O que oprime é ter que fingir-me de morta Quando na verdade eu transbordo vida!!!
Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria a sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender. Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: - Sem preliminares. Quero que você me escute,simplesmente. Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes: tire as máscaras... Primeiro tirou a máscara "Eu tenho feito de conta que vocênão me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto..." Seja somente você, em tudo... Então ela se desfez da arrogância "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca, é com você que ouço, Cada palavra que leio, é com você que reparto, Cada deslumbramento que tenho, é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história." Fale dos seus sentimentos... Era o pudor sendo desabotoado "Eu beijo espelhos, abraço, almofadas, faço carinho em mim mesma, tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou." a pessoa amada precisa e gosta de saber... Retirava o medo "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram." Encontrei! E se for o caso, coragem... Por fim a última peça caía, deixando-a nua "Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção... é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que o amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia... eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou. Paramos aqui!" E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.
Garimpeira da beleza Te achei na beira de você me achar Me agarra na cintura, me segura e jura que não vai soltar E vem me bebendo toda, me deixando tonta de tanto prazer Navegando nos meios seios, mar partindo ao meio Não vou esquecer Eu que não sei quase nada do mar Descobri que não sei nada de mim Clara, noite rara, nos levando além da arrebentação Já não tenho medo de saber quem somos na escuridão Me agarrei nos seus cabelos Sua boca quente pra não me afogar Tua língua correnteza lambe minhas pernas Como faz o mar E vem me bebendo toda, me deixando tonta de tanto prazer Navegando nos meus seios, mar partindo ao meio Não vou esquecer Eu que não sei quase nada do mar Descobri que não sei nada de mim
Sessenta e nove... um número... um preço... um ano... uma idade... uma vontade. Sessenta e nove... uma forma... um desenho... um movimento de linhas curvas... um apelo. Sessenta e nove... uma fantasia sexual. Sessenta e nove... você... eu... o prazer. Sessenta e nove vezes já fizemos 69... nunca igual. Sessenta e nove horas de sabor e descobertas. Sessenta e nove, o nosso... é delírio... é feito de gotas... chuva... línguas... narizes... heiros... sabores... amor. Sessenta e nove... é nossa viagem aos sucos que nascem em nosso interior. Sessenta e nove... as vezes começo... às vezes durante... às vezes fim... sempre entrega. Sessenta e nove pudores que você derrubou... Me lembro a primeira vez... Fechada em medos... receios... conceitos... preconceitos... em pudor... Meigamente você tomou meus lábios... invadiu minha boca... sugou meus seios... Lentamente percorreu o caminho até meu umbigo... ali se deteve... lambendo... introduzindo sua língua quente. Dancei e me ofereci. Você me desenhava o ventre com a língua... as mãos brincando em meus mamilos... me fez instinto faminto. Mordiscou meus pêlos... puxou-os suavemente com o dentes. Suas mãos agora apertavam meu traseiro... levantavam-me para facilitar seus beijos em meus grandes lábios. Gemendo eu dizia delírios... dizia pare... dizia me penetra, meu amor. Minha cabeça girava... em mim surgia a vontade de pesquisar seu membro forte que me tocava as pernas... ensandecido de desejo de ser lambido... chupado... saboreado com amor. Por segundos tive pânico... era tão nova essa vontade... esse despudor. Quis gritar minha vontade... não houve necessidade... você sabe fazer amor. Girou seu corpo amado... ofereceu seu membro adorado... fêmea... apenas fêmea... só instinto... me tornou. Deus! Que gosto... poder saber seu gosto... engolir seu sabor. Com cuidado percorri este poderoso instrumento rijo, de textura macia, fina pele em sua borda... sensível... forte... na justa medida da minha fome de comer amor. Sua língua me invadia... minha boca o engolia... sugávamos os sucos do amor. Sede saciada... desejo crescente... loucura presente... fizemos chuva de amor. Sessenta e nove é linha curva que em círculo aprisiona e liberta nosso amor.
Há uma chama que incendeia meu sexo... Um fogo alimentado de saudades de teu corpo Sou safada! Sim, do jeito que você sonha Do modo que me sinto bem... Contigo na cama sou o que você desejar Minha pele clara namora tua pele morena... O suor que sai da nossa pele se mistura como um tempero irresistível... É um vício que não consigo resistir! Não sei se te domino ou sou dominada... Não importa! Sei apenas que me satisfaço entrelaçada nos seus braços enroscada nas tuas pernas e penetrada pelo teu sexo... Homem que me pertence em segredo, venha me ver esta noite! Venha satisfazer esta minha vontade! Tua menina está molhada de desejos Querendo seus beijos, teus carinhos e teu sexo Vem amor! deixa de fazer hora! Vem satisfazer tua menina que, hoje, está mais para loba... Hoje serei a mulher mais safada que já teve... Faça de mim seu bicho de estimação Me prenda nos seus braços e me aperte, deixa-me satisfazer todas minhas vontades Apaga meu fogo que queima sem parar... Meu quarto está vazio sentindo tua falta! Somente tua presença pode afagar meus desejos Vem, safado, satisfazer tua menina sedenta que não vive mais sem você! Que vive somente para você! Vem!...
Conta a história que dom Pedro II casou-se sem conhecer a sua noiva. Tinha visto um quadro com a cara da princesa. Casamento de interesses políticos lá dos portugueses, fazer o que? E quando a moça chegou no porto do Rio de Janeiro - consta - que ele fez uma cara emocionada. Pela feitura da imperial donzela. Mas casou, era o destino, era a desdita. Tenho um avô que foi pedir mão da moça e o pai dela disse: - Essa tá muito novinha. Leva aquela. E ele levou aquela que viria a ser a minha avó. Ah, a outra morreu solteirona. Quando aconteceu o grande boom da imigração japonesa, alguns anos depois, familiares que lá ficaram mandavam noivas para os que cá aportaram. Tudo no escuro. E de olhinhos fechados, ainda por cima. De uns tempo para cá, o conceito da escolha foi mudando. Até ir para a cama antes, valia. Ficava-se antes. Só que agora, finzinho do finzinho do século, surgiu um outro tipo de casamento. O casamento de letras. Letras de textos. O texto - finalmente, digo eu, escritor - virou casamenteiro. Apaixona-se, hoje em dia, pelo texto. Via internet. Via cabo, literalmente. Conheço quatro casos bem próximos. Gente que desmanchou o casamento de carne e osso por uma aventura no mundo das letras. Claro que estou me referindo aos encontros via Internet. Começa no chat, com o texto. Gostou do texto, leva para o reservado. E lá, rola. Eu mesmo já me envolvi perdidamente por dois textos belíssimos. Moças de vírgulas acentuadas, exclamações sensuais e risos de entortar qualquer coração letrado ou iletrado. Sim, pela primeira vez nesta nossa humanidade já tão velhinha, as pessoas estão se conhecendo primeiramente pela palavra escrita. E lida, é claro. Já disse, isso envaidece qualquer escritor. Agora, o texto pode levar ao amor. Uma espécie de amor-de-texto, amor-de-perdição. A relação, o namoro, começa ali no monitor. Você pode passar algumas horas, dias e até semanas sem saber nada da outra pessoa. Só conhece o texto dela. E é com o texto que vai se fazendo o charme. Você ainda não sabe se a pessoa é bonita ou feia, gorda ou magra, jovem ou velha. E, se não for esperto, nem se é homem ou mulher. Mas vai crescendo uma coisa dentro de você. Algo parecidíssimo com amor. Pelo texto. Pouco a pouco, você vai conhecendo os detalhes da pessoa. Idade, uma foto, a profissão, a cor. Inclusive onde mora. Sim, porque às vezes você está levando o maior lero com o texto amado e descobre que ele vem lá da Venezuela. Ou do Arroio Chuí. Mas se o texto for bom mesmo, se ele te encanta de fato e impresso, você vai em frente. Mesmo olhando para aquela fotografia - que deve ser a melhor que ela tinha para te escanear (ou seria sacanear, me perdoando o trocadilho fácil) você vai em frente. "Uma pessoa com um texto desses..." A tudo isso o bom texto supera. Quando eu ouvia um pai ou mãe dizendo "meu filho fica horas na Internet", todo preocupado, eu também ficava. Até que, por força do meu atual trabalho, comecei a navegar pela dita suja. E descobri, muito feliz da vida, que nunca uma geração de jovens brasileiros leu e escreveu tanto na vida. Se ele fica seis horas por dia ali, ou ele está lendo ou escrevendo. E mais: conhecendo pessoas. E amando essas pessoas. Jamais, em tempo algum, o brasileiro escreveu tanto. E se comunicou tanto. E leu tanto. E amou tanto. No caso do amor ali nascido, a feitura, o peso, a cor, a idade ou a nacionalidade não importam. O que é mais importante é o texto. O texto é a causa do amor. Quando comecei a escrever um livro pela internet, muitos colegas jornalistas me entrevistavam (sempre a mim e ao João Ubaldo) perguntando qual era o futuro da literatura pela Internet. Há quatro meses atrás eu não sabia responder a essa pergunta. Hoje eu sei e tenho certeza do que penso: - Essa geração vai dar muitos e muitos escritores para o Brasil. E muita gente vai se apaixonar pelo texto e no texto. Existe coisa melhor para um escritor do que concluir uma crônica com isso? Quer uma prova? Estou fazendo um concurso de crônicas no meu site, (marioprataonline.com.br) entre os leitores/escritores. Entre lá e veja o nível. Pessoas que há pouco tempo atrás odiava escrever redação nas escolas, estão descobrindo o texto. Leiam e me digam se eu não estou certo. E são jovens, muito jovens. Como diria Shakespeare, palavras, palavras, palavras. Como diria Pelé, love, love, love.