quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Meu Tirano - Nereu Airto


Meu tirano viril
meu bandido do cio
tu me furtas
me rouba,e me estupra
eu grito,eu choro,e imploro
tu me agarra
me amarra,me sufoca
Rasgando com força
minha roupa
com a cara severa,
tu abre minhas pernas
eu tremo
fico insegura,tenho medo
mas não peço socorro
à ti,meu tirano
oferto meu corpo
minha alma
Você entra em mim
sem pedir licença
e eu já vou gozando,
você me ofende
e me xinga ,sou vadia,
sou puta...
no mesmo instante
você me beija
com ternura
e come minha fruta
com gula
eu vou a loucura
Eu me abro
você me rasga
eu me arrasto
sou sua escrava
tu és meu tirano
meu homem
meu macho
com você
meu amor
eu gozo na dor
Você me sequestrou
estou no cativeiro
presa nas correntes do desejo
você me alimenta
com afagos e beijos
e em seguida me castiga
com sua louca libido
meu tirano,
você me dá o gozo profano
estou à sua mercê
sou escrava de você
eu só irei te desobedecer
só irei me revoltar
se o meu tirano
me libertar.

Vontades Cruas - Nereu Airto



Meu amado
mas que vontade é essa
que me dilacera
eu queimo por dentro
minhas entranhas doem
meu corpo se contorce
meus seios enrijecem
você dentro
ele por fora
 apetece
num deleite
inconsequente
mordo seus lábios
seus dedos ávidos
entram no meu sexo
você põe o seu
na minha boca
eu recito seu verso
vai, goza...
vai, grita...
eu lambo
toda sua seiva
que avassaladora vontade
me come
mata a minha sede
mata a minha gula
assim nessa tortura
você me mela...
a Cinderela
virou puta
saiu do castelo
com desejo
 sem medo
e tudo querendo...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Alta Tensão - Bruna Lombardi

eu gosto dos venenos mais lentos
dos cafés mais amargos
das bebidas mais fortes
e tenho
apetites vorazes
uns rapazes
que vejo
passar
eu sonho
os delírios mais soltos
e os gestos mais loucos
que há
e sinto
uns desejos vulgares
navegar por uns mares
de lá
você pode me empurrar pro precipício
não me importo com isso
eu adoro voar

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Apaixonada Demência - Simone Lucinaro

Perdoe-me
esta tentativa de varrer-te a intimidade,
de tentar penetrar-te,
invadindo os teus ocultos espaços...
Demência de quem ama
o brilho de um olhar
e, através dele, viaja
para dentro de seu próprio ser.
A imagem tua espelha a minha
e, num convite excitante, 
irresistível,
cálido,
chama-me a desvelar-me
através de ti.
Eu procuro no não dito
o irrevelável,
os abismos que nem tu julgas possuir
Entro por ti pelos poros, pela pele,
por cada célula e te sinto a pulsação,
o odor, o gosto...
Gosto de sal, gosto de mel,
gosto de amor...
Eu não entro para julgar-te
E sim para amar-te,
até em meio às imperfeições...
Entro em ti porque preciso entrar em mim
e descobrir, através de Teu Ser Total,
a Minha Humanidade a brilhar nos olhos teus.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Sonho Morto - Florbela Espanca

Nosso sonho morreu. 
Devagarinho,
Rezemos uma prece doce e triste
Por alma desse sonho! 
Vá… baixinho…
Por esse sonho, amor, que não existe!
Vamos encher-lhe o seu caixão dolente
De roxas violetas; triste cor!
Triste como ele, nascido ao sol poente,
O nosso sonho... ai!... reza baixo... amor...
Foste tu que o mataste! 
E foi sorrindo,
Foi sorrindo e cantando alegremente,
Que tu mataste o nosso sonho lindo!
Nosso sonho morreu… 
Reza mansinho…
Ai, talvez que rezando, docemente,
O nosso sonho acorde… mais baixinho…

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Despejo - Silvia Schmidt

Ah!...
poupa-me
da tua insanidade, 
Mente doente,
fraca e mentirosa! 
Afasta-te,
palavra elogiosa, 
Por veneno concebida
na maldade!
Tu és um espinho
disfarçado em rosa! 
Queres manchar
a minha integridade, 
A mim trazendo
falsa santidade, 
Com tua lisonja
e fala pegajosa? 
Quero-te longe
do meu pensamento! 
Quero habitar
o teu esquecimento!
Quero distância
das tuas caras todas! 
Ah!...
poupa-me
da tua insanidade! 
Vive tua escolha
de infelicidade! 
Em outros termos:
vai-te...
e que te fodas!