No contexto do vocabulário da língua portuguesa
existe uma palavra pequenininha
mas de uma carga emocional muito forte,
decisiva, salvadora ou ineficaz
embora num contraste que possa parecer dúbio:
o "QUASE".
Significa muitas vezes o pertinho,
o gostinho do que poderia ter sido
e a melancolia ou a felicidade
de não ter conseguido.
Todo quase antecede à ação ou realização.
O que não aconteceu
ou pela falta de oportunidade,
ou por deixar passar apenas
pelo medo de ousar.
É o comodismo da vida equilibrada,
traçada e morna...
Ou os destemperos de atitudes explosivas
e impensadas.
É o meio termo...
É o desequilíbrio...
É o querer fazer...
É a indefinição...
É muitas vezes, a salvação...
Temos a mania de valorizar
o lado ruim das coisas
e assim também fazemos com o Quase...
Muitas vezes esse mesmo quase fez-me feliz...
Quase agi...
Quase transgredi...
Quase parti...
Quase deletei tudo...
E quase me magoei...
Estive tão perto de incoerências...
Quase "te" exigi...
Quase "te" cobrei...
Quase fiz de ti o que não amei...
Quase quis fazer nossa estória diferente...
Hoje tenho tentado agir de acordo
com alguns aprendizados:
não escondo nunca meus sentimentos
vivendo o hoje como se o amanhã não existisse.
Direciono meu comportamento diante da vida
de uma forma intensa
como se as oportunidades devessem ser agarradas
para que nunca escapem.
Vivo sonhos sem estar alimentando-os.
Preocupo-me em exauri-los numa quase totalidade.
Nem toda mudança precisa vir
carregada de sofrimento...
Deve vir carregada de afeto, de entrega
e de felicidade espontânea.
Nossos momentos são frágeis
como bolinhas de sabão e desaparecem no ar
embora pareçam quase duradouros.
Esses momentos são quase instantes
que não podem estar trancados dentro de nós.
Aprendi que quanto mais envelhecemos
mais nos aproximamos da morte.
E a vida quase finda.
Quase a perdemos esperando...
Quase não vivemos apenas sonhando.
Os instantes, os momentos passam
e quase sempre só deixam a beleza
daquilo que foi vivido.
O sentido da vida é o que nela deixamos...
É olhar a imensidão e perceber
a quase união perfeita entre o céu,
a terra e o mar.
É fazer do QUASE mais um motivo
de preservar a própria felicidade.