quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Mulher - Bruno Kampel

Não quero uma mulher
Que seja gorda ou magra
Ou alta ou baixa 
Ou isto e aquilo
Não quero uma mulher
Mas sim um porto, uma esquina
Onde virar a vida e olhá-la 
De dentro para fora.
Não espero uma mulher 
Mas um barco que me navegue
Uma tempestade que me aflija
Uma sensualidade que me altere 
Uma serenidade que me nine
Não sonho uma mulher
Mas um grito de prazer 
Saindo da boca pendurada 
No rosto emoldurado
No corpo que se apoie
Nas pernas que me abracem. 
Não sonho nem espero
Nem quero uma mulher 
Mas exijo aos meus devaneios 
Que encontrem a única 
Que quero sonho e espero 
Não uma, mas ela
E sei onde se esconde 
E conheço-lhe as senhas
Que a definem
O sexo 
Ardente, a volúpia estridente 
A carência do espasmo
O Amor com o dedo no gatilho
Só quero essa mulher
Com todos seus desertos 
Onde descansar a minha pele
Exausta e a minha boca sedenta
E a minha vontade faminta
E a minha urgência aflita 
E a minha lágrima austera
E a minha ternura eloquente
Sim, essa mulher que me excite
Os vinte e nove sentidos
A única a saber
O que dizer 
Como fazer 
Quando parar 
Onde esperar
Essa a mulher que espero 
E não espero 
Que quero e não quero 
Essa mulher porto, esquina
Que desejo e não desejo 
Que outro a tenha. 
Que seja alta ou baixa 
Isto ou aquilo 
Mas que seja ela 
Aquela que seja minha 
E eu seja dela 
Que seja eu e ela
Eu, ela 
eu lá nela 
Que sejamos ela
E eu então terei encontrado
A mulher que não procuro
O barco, a esquina, Você
Sim, você, que espreita 
Do outro lado da esquina, no cais,
A chegada do marinheiro
Como quem apenas me espera 
Então nos amarraremos sem vergonha
À luz dos holofotes dos teus olhos,
E procriaremos gritos e gemidos 
Que iluminarão todas as esquinas
Será o momento de dizer
Achei/achamos 
Amei/amamos 
E por primeira vez vocalizar o 
Somos, pluralizando-nos 
Na emoção do encontro
Essa a mulher 
que não procuro
nem espero
Você, viu? 
Você!

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