segunda-feira, 5 de abril de 2010

Bunda? Eu? - Magda Almodóvar

Quem disse que sou só uma bunda?
E que ela precisa estar atrevidamente em pé,
caso contrário, devo siliconizá-la?
Quem disse que só preciso de peito empinado?
Quem disse essas babaquices?
Eu sou mulher inteira: cabeça, tronco e membros!
Tenho idéias, pensamento lógico, sentimentos,
desejos, frustrações...
mas tenho principalmente consciência
de quanto valho e de quem sou.
Recuso-me a aceitar 
que uma BUNDA me represente!!!
Não admito ser reduzida
a um corpo produzido artificialmente!!!
Revolto-me ao ouvir dizer sobre a mulher
apenas pelas suas qualidades aparentes!!!
E afinal a mulher só tem peito e bunda??????
Não eu!!!
Se posso recorrer à plástica para rejuvenescer,
claro que o farei!
Quando a Lei da Gravidade fizer minhas
protuberâncias caírem, se me aprouver, as levantarei!
Procurarei meu Cirurgião Plástico 
que já em casos de queimadura minha filha socorreu,
sem que isto seja uma Olímpica competição
para cumprir o Padrão Tchan!!!
Sou fã do Ácido Retinóico, da Vitamina C, 
do Ácido Glicólico, da Uréia, da Semente de Uva,
da minha dermato (que é meu Pilar!), 
mas pretendo é um aspecto mais plácido e compatível
com meu interior que é sempre adolescente.
Tenho mãos que sabem aconchegar e afagar...
Tenho pernas que me levam ao encontro do Amar...
Tenho lábios que sempre anseiam por beijar..
Tenho ventre que já abrigou filhos...
Tenho braços de abraçar...
Tenho um corpo inteiro e nele habitam vísceras,
músculos, veias, alma, paixão e razão.
Acho lindo um belo corpo torneado, pele viçosa,
músculos delineados, cabelos sedosos, e todos
devemos nos empenhar em ter saúde, beleza,
destreza, flexibilidade. Porém ser só corpo, 
mutilado que só de bunda e peito se compõe, 
é idiotia, aberração, ou melhor, covardia e ilusão.
Lembro-me que faz pouco tempo a Mulher Bunda 
foi considerada a representante 
da Mulher Brasileira.
Recuso-me a ser por este tipo de mulher representada!
Que luxo seria estabelecer 
como Mulher Padrão Brasileira
a maravilhosa Fernanda Montenegro, 
ou Irene Ravache,
quem sabe Marina Colassanti.
Mais jovem, rebelde e inesquecível?
Leila Diniz, que exibiu com sensualidade e orgulho
seu ventre dilatado pela gravidez.
Que tal Carolina Ferraz?
Bonita, charmosa, sensual, inteligente, elegante, 
sensível, apaixonada, mãe carinhosa 
que em recente entrevista à revista QUEM afirma:
"Eu não tenho mérito nenhum em minha beleza...
Não existe mágica para nada.
Acho que na vida temos 
que ter bom humor e disciplina...
Os meus músculos são de carregar Valentina...
E tem mais: 
"eu filmo mais musculosa do que realmente sou..."
e finaliza "Eu gosto de ter prestígio 
e sucesso pelos meus méritos...
Pois é, a beleza não pode tirar a atenção."
É, se mulher objeto é o padrão,
quero jamais ser citada,
prefiro ser ridicularizada por ter 54 anos,
escrever poesias, crer no Amor
e pagar caro pela minha independência,
e ainda ser considerada decadente
por não ter extraído dinheiro ou viver à sombra
do poder do ex-marido patrocinador.

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