terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Traída - Magda Almodóvar


Isto nunca entrou em minha mente.
Abro mão da minha arrogância,
Despojo-me da vaidade,
Retiro máscaras,
Me confesso cruamente.
Preciso exteriorizar esta angústia que me consome!
Necessito dizer, ler, minha decepção.
É a maneira que encontro de me curar.
Os objetos impregnados deste viver,
Já foram desmontados,
Muitos doados, pouco resta para me desfazer.
Pensei que isto adiantaria.
Internamente nada mudou.
Dói fundo, queima, sufoca.
Resta-me encarar de frente meu sentir.
Dificílimo me ver assim nua e tonta!
Dolorido saber que entrei num jogo sem perceber.
Triste saber que me apaixonei pelo inexistente.
Ainda não consigo conceber 
Que pessoas brinquem com o amor!
Brincaram com o meu.
Fui joguete, uma peça num tabuleiro
E sofri um xeque-mate.
Ele propunha cumplicidade,
Ternura,
Paixão,
Construção de intimidade,
Acenava com ciúme e saudade,
União em par.
Pata! Uma patinha tola!
Fui enganada!
Era só um jogo de conquista!
Conquistada, me vi só.
E eis-me aqui, com pudor e coragem,
A falar do vazio, da frustração, da minha pequenez.
Inconcebível misturar afeto e trama?
Não, hoje sei que alguns misturam.
Pobres,
Serão mesmo pobres?
Daqueles que crêem na sinceridade,
Quando se defrontam com um conquistador!
Abrem o coração, colocam-no à mostra.
Tiram todos os escudos,
Fazem o que melhor sabem
E oferecem a um enganador.
Ah! Como dói assumir que fui engambelada!
Criança a quem foi dado um doce
E retirado sem cuidado.
Fere!
Maltrata!
Tentei entender,
Busquei explicações,
Propus diálogo,
Só consegui mais enganosas confissões.
Hoje vejo com clareza,
O que não atenua a minha tristeza,
Que me apaixonei por uma imagem,
Racionalmente criada
E muito bem representada.
Como me sinto infantil!!!
Mas me perdôo,
E trato com carinho minhas feridas.
Ao outro vou perdoar a traição,
Pois de perdão precisa meu coração,
Mas levará um tempo,
E creio que por um tempão,
Não quero saber de paixão.

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