quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Caio Fernando Abreu

Então me vens 
e me chega 
e me invades 
e me tomas 
e me pedes 
e me perdes 
e te derramas 
sobre mim 
com teus olhos 
sempre fugitivos 
e abres a boca 
para libertar 
novas histórias 
e outra vez 
me completo assim, 
sem urgências, 
e me concentro inteiro 
nas coisas 
que me contas, 
e assim calado, 
e assim submisso, 
te mastigo 
dentro de mim 
enquanto me apunhalas 
com lenta delicadeza 
deixando claro 
em cada promessa 
que jamais será cumprida, 
que nada devo esperar 
além dessa máscara colorida, 
que me queres assim 
porque assim que és...

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