sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Banquete - Lílian Maial

Postei-me à mesa de tua casa,
como banquete em oferenda
ao teu amor incondicional.
Deitei-me preparada
do molho dos teus temperos,
inebriando o ambiente
com os aromas de tua fome.
Dei-te a provar o antepasto de meus olhos,
onde o desejo de adentar tua boca faminta
suplanta a ansiedade 
da espera do prato principal.
Servi-te o mais puro vinho de minha adega,
para deleite de teus lábios e papilas,
que poderão sorver,
gota a gota,
a tentação desse cálice bento.
Minha boca, oferecida em beijos
de requintada sopa de saliva
e frutos do mar (de amor),
entreabre-se ante a visão
da tua voracidade em degluti-la.
Meu corpo nu, prato único,
iguaria sem igual,
jaz impregnado do cheiro 
dos ingredientes exclusivos
dessa mistura embriagante e secreta,
aguardando, quente e tenro,
a consumação desregrada,
sem noções de etiqueta.
Os dedos, mergulhados nos caldos e molhos,
fogem das lavandas
e são lavados diretamente na boca.
A ornamentação dos frutos maduros,
de textura suave, estimulando o paladar,
trazem lembranças de pêssegos e peras,
maçãs, ameixas, cerejas, jabuticabas,
numa salada-de-frutas carnudas do prazer.
Teu apetite animal quer desvendar os mistérios
dessa cozinha médio-oriental,
e saboreia cada elemento,
tentando adivinhar suas origens,
de olhos fechados.
Após saciar-te a volúpia,
embriagar-te com minhas beberagens,
nutrir-te com minhas seivas,
apresento-te a sobremesa,
na bandeja de argila do meu dorso,
donde provarás do fruto mais raro,
dos recantos mais exóticos,
deliciando-se como os bárbaros.
E nesse banquete sensual,
musicado por sussurros arautos,
gemidos menestréis,
gritos sopranos,
urros tenores,
suspiros angelicais
e obscenidades profanas,
finalizamos com teu licor,
de efeitos satânicos,
de poderes libidinosos,
para então brindarmos,
exaustos,
ao nosso amor.

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