segunda-feira, 29 de abril de 2013

Quase - Beth Nunes

No contexto do vocabulário da língua portuguesa 
existe uma palavra pequenininha 
mas de uma carga emocional muito forte, 
decisiva, salvadora ou ineficaz 
embora num contraste que possa parecer dúbio:
o "QUASE".
Significa muitas vezes o pertinho,
o gostinho do que poderia ter sido 
e a melancolia ou a felicidade 
de não ter conseguido.
Todo quase antecede à ação ou realização.
O que não aconteceu 
ou pela falta de oportunidade, 
ou por deixar passar apenas 
pelo medo de ousar.
É o comodismo da vida equilibrada, 
traçada e morna...
Ou os destemperos de atitudes explosivas 
e impensadas.
É o meio termo...
É o desequilíbrio...
É o querer fazer...
É a indefinição...
É muitas vezes, a salvação...
Temos a mania de valorizar 
o lado ruim das coisas 
e assim também fazemos com o Quase...
Muitas vezes esse mesmo quase fez-me feliz...
Quase agi...
Quase transgredi...
Quase parti...
Quase deletei tudo...
E quase me magoei...
Estive tão perto de incoerências...
Quase "te" exigi...
Quase "te" cobrei...
Quase fiz de ti o que não amei...
Quase quis fazer nossa estória diferente...
Hoje tenho tentado agir de acordo 
com alguns aprendizados: 
não escondo nunca meus sentimentos 
vivendo o hoje como se o amanhã não existisse. 
Direciono meu comportamento diante da vida 
de uma forma intensa 
como se as oportunidades devessem ser agarradas 
para que nunca escapem.
Vivo sonhos sem estar alimentando-os.
Preocupo-me em exauri-los numa quase totalidade.
Nem toda mudança precisa vir 
carregada de sofrimento...
Deve vir carregada de afeto, de entrega 
e de felicidade espontânea.
Nossos momentos são frágeis 
como bolinhas de sabão e desaparecem no ar
embora pareçam quase duradouros.
Esses momentos são quase instantes 
que não podem estar trancados dentro de nós.
Aprendi que quanto mais envelhecemos 
mais nos aproximamos da morte.
E a vida quase finda.
Quase a perdemos esperando...
Quase não vivemos apenas sonhando.
Os instantes, os momentos passam 
e quase sempre só deixam a beleza 
daquilo que foi vivido.
O sentido da vida é o que nela deixamos...
É olhar a imensidão e perceber 
a quase união perfeita entre o céu,
a terra e o mar.
É fazer do QUASE mais um motivo 
de preservar a própria felicidade.

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