domingo, 14 de abril de 2013

Hoje Eu Quero Te Amar Assim - Lílian Maial

Intruso
Deixei-te, incauta, invadir meu território.
Fingi não perceber que penetravas minhas verdades. 
Desconfiei, quando revelaste minhas mentiras. 
Desesperei, quando peregrinaste 
em meu coração aberto.
Ah, infame intruso de pegadas profundas, 
deixando marcas sutis em teu caminho... 
Livra-me de tuas correntes, 
que a clausura desse amor me queima! 
Serve-te de minha alma pagã 
e entalha nela teus dogmas, 
fazendo de mim tua mais fiel devota. 
Flagela essa pele tenra com teus dedos hereges 
e despe-me da vergonha e da sensatez, 
para desfrutar da luxúria e da entrega 
do corpo abandonado a teus critérios. 
Não, não te aproximes!
Sai, expulso de meu ventre, 
que não te quero assim, 
não te vejo meu,
não te sinto aqui,
então não me terás!
Ah, cruel sangue corrosivo, 
que não me deixa bani-lo de mim! 
Minhas forças esvaem-se, inúteis, 
contra teu sorriso guerreiro. 
Minhas armas não conseguem perfurar 
as trincheiras de teu olhar sincero. 
Meus soldados são derrotados, 
antes mesmo de marcharem, 
por teus beijos que açoitam feito chibata. 
Ah, monstruoso cavalheiro, 
de que vis paragens vieste roubar minha paz? 
De que negros esconderijos surgiste de emboscada 
e prendeste, indefeso, 
meu coração na armadilha do teu? 
Vem de uma vez! 
Toma, usurpa, governa 
que já não suporto mais tua ausência! 
Estou vencida e, como tal, 
devo servir meu amo, 
a quem entrego, obediente, 
os punhos prontos para os grilhões. 
Acorrenta-me com teu amor, 
que tua escrava aguarda teus desejos: 
insaciável, 
incansável, 
indefesa, 
toda tua. 

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